segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ritos e Cultos de Cura

                BENZEDURA

 
O que constitui um ato de benzer? Por que as pessoas se benzem? Quais são os diferentes tipos de pessoas que benzem em nossa sociedade?
Para respondê-las significa penetrar na essência da nossa cultura. Significa penetrar nas diferentes formas de organização da experiência coletiva de vida em nossa sociedade.
Benzer significa: fazer o sinal da cruz sobre pessoa ou coisa, recitando certas fórmulas litúrgicas. A benção é então um instrumento pelo qual os homens produzem serviços e símbolos de solidariedade para si e para sujeitos da classe social da qual fazem parte.
Os sentidos para a benzedura são; tornar próspero, coroar com bom resultado alguém ou alguma coisa.
A benção é uma prática social que acompanhamos todos nós. No ato da benção, cada pessoa que benze revitaliza determinados símbolos sagrados. Esses símbolos passam uma dada visão do aprendido e do que pode ser reconstruído. Não como símbolos soltos dispersos, mas como símbolos que permeiam a produção social da vida e as relações entre as pessoas.
A importância de estudar uma cultura e uma sociedade que produzem estratégias distintas para resolver os seus problemas, explicar a sua existência natural e o modo como as pessoas se inserem nesse espaço. Onde lutam, enfrentam-se, trabalham, amam, sofrem e constroem a essência da vida, como um processo social que é a história da humanidade.
Então, o que nos saltava aos olhos como um fenômeno cotidiano e tangível, vai se revelando em toda a sua complexidade de relações e em toda a sua multiplicidade de significados. Os mais variados modos de produzir bênçãos implicam formas diferenciadas de saber-fazer esse ato, às vezes um ofício.
Penetrar na essência da cultura através da benção é conseguir entender qual é a sua proposta e em que média ela possibilita enxergar outras dimensões da vida social das pessoas e de seus mundos.
Qual é a imagem que fazemos de uma pessoa que benze?
Geralmente é a de que seja uma mulher, casada, mãe de alguns filhos, pobres, que conheça rezas, ervas, massagens, cataplasma, chás e simpatias, que tenha um quê de mistérios, que ide com a magia, feitiçaria e bruxaria. E essa imagem corresponde aquilo que é a benzedeira. Ela é tudo isso e um pouco mais. Ela é uma cientista popular que possui uma maneira muito peculiar de curar: combina os místicos da religião e os truques da magia aos conhecimentos da medicina popular.
A maior parte das benzedeiras são católicas. Encontram-se espalhadas em diversas vilas e bairros de uma cidade grande e não  fazem parte de corporações profissionais do tipo  sindicato ou igreja.
São religiosas, mas nem sempre freqüentam igrejas.
Vimos que originalmente a benzedeira no campo era católica. Na sua vinda para a cidade, contudo ela começa a entrar em contato com novas religiões emergentes, como Kardecismo,o pentecostalismo(Assembléia de Deus e Igreja Quadrangular), como a Umbanda, Candomblé ,Esoterismo e outras.Essas diferentes religiões lhes oferecem novos modelos de ação, que serão recriados nos seus trabalhos.
                    BENZEDEIRAS CURAM MALES

Um dos aspectos curiosos da cultura popular brasileira é o trabalho desenvolvido pelas benzedeiras e benzedores.A origem dessa prática é milenar e, apesar dos avanços científicos,especialmente da medicina, há muita gente que ainda procura esse caminho para se livrar de males físicos e psiquícos.
Uma das autoras do livro “Benzedeiras e Benzeduras”, a professora Elma Sant’Ana, diz que a Bíblia, já no antigo Testamento, faz referências a bênçãos, súplicas e preces para curas. “O próprio Cristo curava pela oração e imposição da mãos”, observa. No Brasil, os índios faziam rituais de cura através dos pajés. Com a vinda dos padres Jesuítas por volta de 1550, e dos escravos negros a partir de 1580, esses rituais ganharam novas dimensões com a agregação de elementos das culturas brasileiras, européia e africana.Mesmo com os avanços da ciência, as benzeduras continuam sendo praticadas,mas em menor escala do que no passado.A maior incidência em localidades mais distantes dos grandes centros evidencia a relação dessa prática com as dificuldades que muitas pessoas ainda enfrentam para consultar os serviços de saúde.
                   MAU –OLHADO
Na concepção popular, as benzedeiras podem curar males físicos e emocionais. Doenças na pele,cobreiro(herpes),erisipela,machucaduras,dores de barriga, verrugas, ínguas, entorses, mordeduras de aranha e cachorros, espinhela caída, sapinho(aftas de crianças) e outras seriam eliminadas pela oração.
Dentre os males emocionais mais comuns tratados pelas benzedeiras, está o quebrante. Ele se caracteriza pelo desanimo, sonolência,falta de apetite, vontade de chorar e dor de cabeça sem causa aparente. Qualquer ser vivo pode ser vítima, mas as crianças seriam as mais prejudicadas.
Segundo as benzedeiras,quem causa o quebrante é o mau-olhado,transmitido por pessoa invejosa e ciumenta. Através dos olhos, ela sugaria a vitalidade do outro ou lhe desejaria algum mal. O mau-olhado pode matar uma pessoa, um animal ou uma planta, asseguram. O combate seria feito através da oração das benzedeiras.
                   SIMPATIAS E BENZEDURAS
A benzedura é uma mistura de religião e magia,uma tentativa de dominar as limitações humanas, vencer a natureza e promover a cura de um mal através da fé, das orações e de alguns atos intencionais.Os benzedores não revelam o teor de suas orações, acreditam que se revelarem perdem a força .Não cobram os seus préstimos, dizem que é dom “que Deus deu”, que deve ser doado a quem precisa.Eventualmente aceitam um presente, uma galinha gorda, um quarto de ovelha, ou até mesmo um donativo para adquirir “velas para os santos”.
Para tirar “quebranto” ou “quebrante”, com um galho de arruda fazer o movimento de varrer a pessoa de cima pra baixo dizendo;
“Em nome de São Pedro
Em nome de São Paulo
Que todo mal seja afastado
Que todo olho grande seja tirado
Em nome de São Pedro.”

                   RELIGIÃO E MODERNIDADE
Segundo a socióloga francesa Danièle Hervieu-Léger, a modernidade possui três principais traços e, direta ou indiretamente, eles são associados ao arrefecimento social e cultural da religião. O primeiro traço é a vinculação entre modernidade e racionalidade baseada no imperativo da adaptação coerente dos meios aos fins que se persegue,com a conseqüente dissipação das ignorâncias geradoras de crenças e de comportamentos “irracionais”. Assim sendo, o emblema e o horizonte da racionalização é o desenvolvimento da ciência e da técnica enquanto condição do progresso humano global. Neste caso pondera a autora, “ a racionalidade está longe  de se impor uniformemente em todos os registros da vida social...”
O segundo traço enfatiza que deste sonho de racionalização resulta um tipo particular de relação com o mundo que se resume na “afirmação fundamental da autonomia do indivíduo-sujeito capaz de fazer o mundo no qual se vive e de construir ele mesmo as significações que dão um sentido a sua própria existência”.
   CONCLUSÃO
O interesse em aspectos específicos das práticas populares podem nos fornecer lições preciosas uma vez que – sendo elas quase tão velhas quanto a humanidade – seus elementos essenciais se formaram ao longo de um período em que todos os povos da terra constituíam comunidades simples.
Em algumas comunidades já pelo fato de nem encontrar a propriedade individual, nem a preocupação do enriquecimento individual ou da herança de bens materiais, a realização do indivíduo era canalizada prioritariamente para a solução dos grandes problemas referentes à continuidade da espécie, a garantia de sobrevivência das gerações futuras através de técnicas longamente testadas. Garantia-se assim, uma preservação do meio ambiente no longo do período em que a humanidade viveu da caça e coleta. Esta preocupação com o que é bom para a comunidade presente, desde que não prejudique ou inviabilize a comunidade futura é justamente o que a humanidade de hoje precisa urgentemente – recuperar.

 Referências:
Oro,Pedro Ari; Carla Brandalise...[et al] Organizado.Representações sociais e humanismo latino no Brasil atual:religião,política, família e trabalho.Porto Alegre.Editora da UFRGS,2004
Oliveira,Elda Rizzo.O que é benzeção.Saõ Paulo.Brasiliense.1985
Ribeiro,Paula Simon.Folclore:similaridades nos países do mercosul.Porto Algre.Martins.2002
Vogt,Olgário Paulo,Maria Rosilane Zoch Romero.Uma luz para a história do Rio Grande:Rio Pardo 200 anos:cultura, arte e memória.Santa Cruz do Sul.Gazeta.2002
Carvalho, Silvia Maria Schmuziger, Delgado Sobrinho, Antonio Taloro, Ravagnani, Oswaldo Martins. Transmissão da arte de benzer e curar com plantas. São Paulo. 1982.

GRUPO: Vânia Soares, Mariele Garcia (Moderadora), Vivian Porto e Fábio Felício.

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