quarta-feira, 22 de junho de 2011

A decisão da maternidade está nas mãos delas


Há mães que geram seus filhos e os largam para um mundo que lhe encontrar. Há mães colocam filhos em lixeiras, deixam em portas de casas, jogam em rios ou jogam ao relento de madrugadas frias.
E o que dizer daquelas que abortam, que se quer deram a chance de vida para aquele ser? Diante deste cenário criminoso, há mulheres que fazem tratamentos conceptivos ou ficam por anos em uma fila para adotar uma criança e poderem realizar o sonho da maternidade.
Há mães que se consideram abençoadas e mães que engravidaram 'acidentalmente'.
Gravidez não planejada tem aos montes por aí. E muitas delas, não querem seus filhos e enxergam apenas uma saída: o aborto. Uma questão cultural, psicológica, ou financeira?
Há mães jovens, bonitas e ricas que procuram clínicas clandestinas e mães pobres, sem nenhum recurso para abortar. Algumas buscam por drogas e remédios abortivos de baixo custo, outras escondem uma gravidez por nove meses e depois entregam o filho.
Difícil explicar, mas podemos afirmar que todas estas mulheres se defrontam com problemas como mães, que vão de acordo com a origem educacional e cultural. Assim como cada uma delas, têm em vista produzir diferentes tipos de pessoas.
Será que passou pela cabeça de alguma destas mães que geraram seus filhos e lhes colocaram no lixo, fazer isso para garantir a vida com outra família? Ou na maioria dos casos a decisão de ter o filho foi por não ter tido a oportunidade de abortá-lo?
Como disse Sheila Kitzinger em sua obra 'Mães - um estudo antropológico da maternidade', “a situação da maternidade é culturalmente determinada, sobre e acima de sua natureza biológica”.
No filme 'O Aborto dos Outros', que retrata a situação das mulheres que, amparadas pela lei, interromperam a gravidez, além de outras que fizeram abortos clandestinos e sofreram as duras conseqüências, o médico Jefferson Drezett calcula que 70 mil mulheres morram por ano no mundo em decorrência de abortos inseguros. Uma a cada sete minutos.

Aqui no Brasil a prática é considerada crime, no entanto, em duas circunstâncias a legislação brasileira garante o direito à interrupção da gravidez. No caso de violência sexual (estupro) – desde que consentido pela gestante ou representante legal em caso de incapacidade – ou em situações de risco à vida da mulher.
Outro fato que podemos levar em conta é quando a mãe é solteira. Vem o preconceito e a pressão de ter que criar aquele ser sem o pai pesa nas costas. Ainda assim, a mulher continua com o papel de disseminadora de cultura através da maternidade. O fato de ela ter um útero e de amamentar significa que não só tem filhos, mas é em grande medida responsável por eles enquanto bebês e, por vezes, durante muito mais tempo. “Ela é o primeiro e o mais importante canal através do qual a cultura é comunicada ao bebê”.
Ser mãe exige muito de toda mulher. A criança exige tempo, dedicação, dinheiro, carinho, proteção, entre outras coisas. Ela exige disposição física e mental, 24 horas por dia, sem folgas! Ser mais exige planejamento e é o que falta na maioria dos casos em que a saída é o aborto ou a doação do filho.
O que nos deixa intrigados e chocados são os casos de mães que fazem exatamente o contrário. Ficamos chocados com mães que abandonam seus filhos, que os negligenciam, maltratam e que as vazes até matam... O que será que acontece com essas mães? Muitos outros aspectos estão envolvidos na experiência da maternidade e a maior parte dos comportamentos que usamos para julgar se uma mulher é uma boa mãe são comportamentos aprendidos. Por isso é tão importante a atenção e carinho que a mãe da para a criança desde pequeno, pois é a partir daí que começa sua formação.
A relação mãe-filho sofre influência marcante da cultura, do ambiente social, religioso, financeiro, da nossa saúde física e mental, do nosso acesso a educação, lazer, trabalho, descanso, dignidade, reconhecimento. Uma mãe que é desvalorizada socialmente, que sofre cronicamente com dificuldades financeiras ou dificuldades emocionais, que não tem apoio na família, que sofre maus-tratos do marido, que não tem acesso a educação, nem à saúde, nem ao lazer, tem mais chances de abolir todos esse cuidados que se deve ter. E por isso, muitas vezes, a causa de abandonarem seus filhos. Já que a mãe não tem condições financeiras e nem uma boa estrutura ela não consegue fazer o aborto. Com isso, esperam os nove meses para depois abandonar seus filhos. Para isso não acontecer as mães precisam ser bem estruturadas psicologicamente para contribuírem para o bom desenvolvimento psicológico de seus filhos e delas mesmas.

CULTURA E PERSONALIDADE
Verifica-se, que tanto a maternidade como a gravidez e o parto possuem grande variabilidade de expressão segundo as experiências de cada indivíduo. A cultura, as ambições, os projetos e o funcionamento afetivo-emocional devem ser levado em consideração. Essa variabilidade pode ser vista sob dois fatores. Por um lado um componente cultural que influencia o sentir e o agir da mulher nesses períodos; por outro lado, os componentes intrínsecos da própria mulher que têm a ver com as suas características de personalidade. Pensar e refletir sobre a maternidade implica ter em conta a forte inter-relação destas duas linhas, nem sempre fáceis de distinguir. Na abordagem histórica e antropológica das atitudes maternas não se encontra um comportamento universal e necessário por parte da mãe, ela oscila muito dependendo de cada sociedade e da própria temporalidade pois mesmo quando a fertilidade era valorizada o infanticídio era praticado em situações de miséria. Os bebês eram “acidentalmente” sufocados ou deixados cair de cabeça (Kitzinger, 1978). Na Idade Média, o infanticídio era mesmo preferido ao aborto sendo o mais usado para limitar o número de filhos. Também o abandono foi uma prática banal durante a Antiguidade, em certas sociedades o pai de família tinha o direito de escolha pela vida ou pela morte da criança. Naquela época o recurso ao abandono funcionava como um modo de fazer morrer uma criança indesejável.
A partir desse momento, assistimos à contextualização técnica do nascimento; o nosso imaginário é povoado de tecnologia, de aparelhos, de saberes técnicos. Por outro lado, vivemos um momento de transição: estamos tentando apagar do imaginário coletivo a figura suprema de mulher/mãe do passado para substituir por uma outra que divide o espaço do nosso imaginário com um outro alguém, o pai. Toda esta transição na vivência da maternidade, na qual se implicam movimentos sociais, culturais e psicológicos é, obviamente, exigente em termos de mecanismos adaptativos do Eu. Para esta exigência nem sempre se conseguem as respostas adequadas; podem, por exemplo, sobrevir conflitos psicológicos que apenas encontram a sua expressão no sintoma psicossomático.

PARA REFLETIR:
Se nos remetermos para os tempos de hoje, o que será que mudou? Naquela época o pai tinha direito de escolha sobre o destino da vida do filho, e agora quando lemos notícias de bebês abandonados em lixeiras, rios, ruas não nos parece tudo igual e que só mudou a época?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Dolto, F. (1981). No jogo do desejo. Rio de Janeiro: Imago.
Kitzinger, S. (1978). Mães. Um estudo antropológico da maternidade. Lisboa: Ed. Presença.
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v16n3/v16n3a02.pdf acesso em 10.Jun.2011

Grupo 2:
Letícia Eduarda Wacholz (moderadora), Cristiane Lautert, Andressa Marmitt e Marilene Schmitz

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