terça-feira, 31 de maio de 2011

Origem dos quilombos urbanos do Rio Grande do Sul

As cidades sulinas contavam com uma grande concentração de escravos africanos. Muitos deles, ao fugir da opressão de seus senhores, escolhiam não abandonar o espaço urbano, já que estavam pouco habituados ao modo de vida rural. Assim, muitos dos escravos fugidos se faziam passar por libertos, contando com a colaboração de ex-escravos alforriados, cativos e também alguns senhores, que eram cúmplices desses agrupamentos (MAESTRI, 2005: 298). Eles sobreviviam de maneira precária por meio da rapinagem, da prestação de serviços e de pequenas atividades mercantis.

Uma das comunidades negras urbanas mais conhecidas do período escravista é o quilombo do Negro Lucas. O quilombo encontrou abrigo na Ilha dos Marinheiros, um lugar de terras férteis e parcialmente coberto por mata. A ilha localizava-se bem diante de Rio Grande, um importante centro urbano do período. De acordo com dados de 1833, os seis homens e as quatro mulheres que formavam o quilombo haviam fugido fazia mais de dez anos (MAESTRI, 2005: 300).


Como viviam muito próximos da cidade, inclusive de seus antigos senhores e das forças repressivas, os escravos do quilombo do Negro Lucas andavam armados e escondidos pela mata da ilha. Os quilombolas resistiram por um longo período até que, em 1833, a guarda nacional realizou uma emboscada e assassinou o Negro Lucas, líder da comunidade. Os demais membros do agrupamento conseguiram fugir e se dispersar, abandonando o local.

Quilombos urbanos nos dias de hoje
Atualmente se conhece a existência de cinco comunidades quilombolas no município de Porto Alegre: Alpes, Areal da Baronesa, Comunidade quilombola da Vila dos Sargentos, Família Fidélix e Família Silva. Existem também alguns quilombos urbanos em municípios vizinhos a Porto Alegre. É o caso da comunidade de Chácara das Rosas, em Canoas. Tais comunidades estão organizadas em uma coordenação regional metropolitana, compondo uma das seis coordenadorias regionais quilombolas da Federação das Associações das Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul.

As comunidades de Alpes e Família Silva inicialmente estavam localizadas em regiões periféricas do município. Com o passar do tempo, no entanto, a cidade os alcançou. O desenvolvimento urbano trouxe a valorização de suas terras e conseqüentemente as pressões imobiliárias. O fato de tais comunidades ainda existirem é prova de sua capacidade de organização e resistência.

Dentre os cinco quilombos urbanos de Porto Alegre reconhecidos pela Federação das Associações das Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul, quatro já estavam, em fevereiro de 2008, com processo de titulação em curso no Incra: Alpes, Areal da Baronesa, Família Silva e Família Fidélix. Destes, apenas o processo da Família Silva estava em etapa mais adiantada: as suas terras são neste momento alvo de ações de desapropriação instauradas pelo Incra a fim de possibilitar a indenização dos atuais proprietários e a emissão do título em nome dos quilombolas.


Grupo: Vânia Soares, Mariele Garcia (Moderadora), Vivian Porto, Fábio Felício.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quilombolas vencem disputa por terra em Alcântara

Os quilombolas obtiveram em Novembro de 2008 importante e emblemática conquista perante o governo federal. Trata-se do reconhecimento do território da Comunidade do Quilombo Alcântara, no Maranhão: uma área de 74.105 hectares, na qual vivem 3.554 famílias, divididas em 106 pequenas comunidades e com população estimada de 16 mil pessoas. A área corresponde a 65% do território do município de Alcântara, que tem 114 mil hectares. Equivale a quase metade da cidade de São Paulo, com cerca de 150 mil hectares.
O reconhecimento do território, por meio de um edital do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), publicado no Diário Oficial da União, é uma tentativa de pôr um ponto final na briga que vinha se arrastando desde 2006 entre órgãos do próprio governo. De um lado estavam os Ministérios da Defesa e de Ciência e Tecnologia e a Agência Espacial Brasileira, interessados na consolidação do Centro de Lançamento de Alcântara - uma área de segurança nacional, destinada ao lançamento de foguetes espaciais; e do outro o Incra e a Secretaria da Igualdade Racial, que defendem os interesses dos quilombolas.
Com o edital o governo reconhece o direito dos quilombolas, mas também mantém intacta - e até amplia - a área ocupada pelo centro de lançamento, controlada pela Aeronáutica. Os militares terão 8.713 hectares, além de uma outra área, não contígua, de 590 hectares, que provavelmente será ocupada por um porto.
 As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Grupo 2:
Letícia Eduarda Wacholz (moderadora), Cristiane Lautert, Andressa Marmitt e Marilene Schmitz

A Etnicidade e os Direitos

Comentário pessoal sobre os assuntos tratados na aula do dia 25/05/11.



Acho interessante, complexo e muitas vezes prolixo o conceito de Etnicidade abordado pela professora na aula. Sem dúvida, povos como índios, negros e outros que buscam o reconhecimento e o respeito às suas diferenças devem se autoafirmar de acordo com sua origem, costumes e padrões culturais, mas o ponto mais forte dessa discussão é quando as leis brasileiras relacionadas a esses povos encontram algumas ambiguidades nas suas aplicações. Por exemplo quando elas reconhecem os diferentes grupos étnicos e os dá o direito de fazerem seus rituais e se autodenominarem um grupo social, muitas vezes esses costumes podem entrar em contradição com o que é visto como normal e legal pela maior parte da sociedade e até pela constituição. Ou quando são estabelecidas leis para privilegiar minorias que foram prejudicadas ao longo dos anos e acabam ocorrendo fraudes beneficiando pessoas que não deveriam receber estes direitos.

Em meio a tantos conceitos diferentes e alguns as vezes até relativos, uma das perguntas que mais gera discussão é: Sabendo da diversidade étnica e da grande miscigenação existente no Brasil até que ponto uma pessoa pode ser considerada componente de um grupo étnico e ter os mesmos direitos e prerrogativas que os outros de seu grupo?

A origem de seus antepassados, a língua, o fenótipo, os costumes, todos esses são fatores que influenciam nessa decisão, mas a discussão é realmente complexa quando se trata da quantidade de diferenças a ser analisada em cada fator e do propósito dessa análise (as leis que reconhecem e concedem direitos aos grupos étnicos). Não esquecendo que alguns desses traços podem facilmente ter sido construídos culturalmente ao longo do tempo, porém cultura e etnicidade não são a mesma coisa.



José Roberto Spalding Corrêa Sobrinho


Grupo 9: Ana Cláudia Müller, Andreia Bueno, José Roberto S. C. Sobrinho (moderador), Lindiara Hagemann, Maira Farinon.


segunda-feira, 23 de maio de 2011

“Ser criança não significa ter infância”

A disparidade das realidades exibidas no documentário A invenção da infância (2000), de Liliana Sulzbach, é gritante. Dois mundos são apresentados ao espectador. Em um deles, crianças da classe média, com suas preocupações a respeito do cursinho de inglês que será útil para a pós-graduação no exterior; em outro, crianças que trabalham duro ao longo de três semanas para receber em torno de R$ 9. “Com três semanas, compra uma feira boa”.



            Os dois extremos têm a intenção de sensibilizar. E conseguem. A infância, que deveria ser o período da brincadeira, da descoberta, da convivência e do aprendizado, assume um papel nem tão colorido assim. Crianças trabalham em pedreiras ou cortando sisal como adultos. “Se a pessoa ficar em casa é muito mais pior, porque não ganha nada”, diz o menino que se considera criança, mesmo com a infância perdida. O documentário também mostra a tirania do tempo regulado, da hora marcada para o balé, para a natação, para a escola.



 
             Ser um menino ou menina não significa, necessariamente, ter infância. Brincar, estudar, jogar bola, fazer desenho, não ter preocupações maiores do que o “tema de casa” ou a bronca do pai por aquela “façanha” feita na rua, são coisas que faltam em ambos os mundos. Crianças completas. Realidades incompletas. Infâncias incompletas.


Grupo 2:
Letícia Eduarda Wacholz (moderadora), Cristiane Lautert, Andressa Marmitt e Marilene Schmitz

A concepção de infância


A concepção de infância dos dias atuais é bem diferente de alguns séculos atrás. É importante salientar que a visão que se tem da criança é algo historicamente construído, por isso é que se pode perceber os grandes contrastes em relação ao sentimento de infância no decorrer dos tempos. O que hoje pode parecer uma aberração, como a indiferença destinada à criança pequena, há séculos atrás era algo absolutamente normal. Por maior estranheza que se cause, a humanidade nem sempre viu a criança como um ser em particular, e por muito tempo a tratou como um adulto em miniatura. De um ser sem importância, quase imperceptível, a criança num processo secular ocupa um maior destaque na sociedade, e a humanidade lhe lança um novo olhar.
Até o século XVII a sociedade não dava muita atenção às crianças. Devido às más condições sanitárias, a mortalidade infantil alcançava níveis alarmantes, por isso a criança era vista como um ser ao qual não se podia apegar, pois a qualquer momento ela poderia deixar de existir. Muitas não conseguiam ultrapassar a primeira infância. O índice de natalidade também era alto, o que ocasionava uma espécie de substituição das crianças mortas. A perda era vista como algo natural e que não merecia ser lamentada por muito tempo, como pode ser constatado no comentário de Áries “ ...as pessoas não podiam se apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual...” (1978 : 22 ).
Na Idade Média a criança era vista como um ser em miniatura, assim que pudesse realizar algumas tarefas, esta era inserida no mundo adulto, sem nenhuma preocupação em relação à sua formação enquanto um ser específico, sendo exposta a todo tipo de experiência.
Segundo Áries, até o século XVII, a socialização da criança e a transmissão de valores e de conhecimentos não eram assegurados pelas famílias. A criança era afastada cedo de seus pais e passava a conviver com outros adultos, ajudando-os em suas tarefas. A partir daí, não se distinguia mais desses. Nesse contato, a criança passava dessa fase direto para a vida adulta. ( Áries, 1978 ).
A duração da infância não era bem definida e o termo “infância” era empregado indiscriminadamente, sendo utilizado, inclusive, para se referir a jovens com dezoito anos ou mais de idade ( Áries, 1989 ). Dessa forma, a infância tinha uma longa duração, e a criança acabava por assumir funções de responsabilidade, queimando etapas do seu desenvolvimento. Até a sua vestimenta era a cópia fiel da de um adulto. Essa situação começa a mudar, caracterizando um marco importante no despertar do sentimento de infância:
No século XVII, entretanto, a criança, ou ao menos a criança de boa família, quer fosse nobre ou burguesa, não era mais vestida como os adultos. Ela agora tinha um traje reservado à sua idade, que a distinguia dos adultos. Esse fato essencial aparece logo ao primeiro olhar lançado às numerosas  representações de criança do início do século XVII ( Áriès, 1978: 33 ).
As grandes transformações sociais ocorridas no século XVII contribuíram decisivamente para a construção de um sentimento de infância. As mais importantes foram as reformas religiosas católicas e protestantes, que trouxeram um novo olhar sobre a criança e sua aprendizagem. Outro aspecto importante é a afetividade, que ganhou mais importância no seio na família.
No século XVIII, além da educação a família passou a se interessar pelas questões relacionadas à higiene e à saúde da criança, o que levou a uma considerável diminuição dos índices de mortalidade.
As mudanças beneficiaram as crianças da burguesia, pois as crianças do povo continuaram a não ter acesso aos ganhos representados pela nova concepção de infância, como o direito à educação e a cuidados mais específicos, sendo direcionadas para o trabalho.  
A criança sai do anonimato e lentamente ocupa um espaço de maior destaque na sociedade. Essa evolução traz modificações profundas em relação à educação, esta teve que procurar atender as novas demandas que foram desencadeadas pela valorização da criança, pois a aprendizagem além da questão religiosa passou a ser um dos pilares no atendimento à criança. Segundo Loureiro :
...nesse período começa a existir uma preocupação em conhecer a mentalidade das crianças a fim de adaptar os métodos de educação a elas, facilitando o processo de aprendizagem. Surge uma ênfase na imagem da criança como um anjo, “testemunho da inocência batismal” e, por isso, próximo de Cristo ( 2005 : 36 ).
Percebe-se o caráter cristão ao qual a educação das crianças foi ancorado. Com o surgimento do interesse nas crianças, começou a preocupação em ajudá-las a adquirir o princípio da razão e a fazer delas adultos cristãos e racionais. Esse paradgma norteou a educação do século XIX e XX.
Hoje, a criança é vista como um sujeito de direitos, situado historicamente e que precisa ter as suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas, emocionais e sociais supridas, caracterizando um atendimento integral e integrado da criança. Ela deve ter todas as suas dimensões respeitadas. Segundo Zabalza ao citar Fraboni:
a etapa histórica que estamos vivendo, fortemente marcada pela “transformação” tecnológico-científica e pela mudança ético-social, cumpre todos os requisitos para tornar efetiva a conquista do salto na educação da criança, legitimando-a finalmente como figura social, como sujeito de direitos enquanto sujeito social” (1998:68).
Assim, a concepção da criança como um ser particular, com características bem diferentes das dos adultos, e contemporaneamente como portador de direitos enquanto cidadão.
Grupo 2:
Letícia Eduarda Wacholz (moderadora), Cristiane Lautert, Andressa Marmitt e Marilene Schmitz

Antropologia do Consumo

         Comprar dá prazer. Isso não é novidade. Mas decifrar as razões pelas quais comprar é tão bom é um desafio para os estudiosos do comportamento humano. Comprar sonhos – e não meros produtos – é o que realiza as pessoas. E isso independe da classe social. Comprar é um ato de afirmação social. Comprar as mesmas coisas que amigos e colegas de trabalho é uma maneira de participar de uma linguagem coletiva, significa identificar-se com certas tribos e diferenciar-se de outras, dizem os estudiosos.
            É preciso ter sido educado para apreciar tais objetos de consumo que vão se refinando cada vez mais. Os rituais de consumo são rituais que estabelecem manutenção de relações, participar ou não deles diz respeito a estar incluído em maior ou menor grau em um conjunto de relações sociais.
            Ninguém deve centrar sua vida de forma que dependa completamente de aspectos materiais ou consumistas, mas não se pode ignorar que as relações de consumo constituem-se em elemento fundamental para a dignidade humana. E isso torna o consumo como um fato social que envolve significados culturais e públicos.
            Muitos consumem para possuir o status, consumindo de acordo com motivações que dizem respeito exclusivamente a imitar ou copiar gostos das classes mais altas.
            Para concluir, pode-se afirmar que consumo não só é satisfação de necessidades que causam prazer como, também, para se identificar com alguém, relacionandp o mundo das coisas materiais à futilidade.

Bibliografia:

Grupo 2:
Letícia Eduarda Wacholz (moderadora), Cristiane Lautert, Andressa Marmitt e Marilene Schmitz

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Então.. Quilombolas!

Como assistimos na última aula o documentário sobre as comunidades quilombolas em Alcântara segue abaixo um texto extraído do blog http://marciorene.blogspot.com/ escrito pelo autor do blog Marcio Renê sobre a Comunidade de Conceição dos Caetanos e diversos problemas que quilombolas enfentam.


Comunidade de Conceição dos Caetanos não quer perder tradições

Marcio Renê
Longe do tempo em que seus antepassados viviam sob a ameaça dos açoites dos senhores de engenho, hoje grande parte dos quilombolas enfrenta outro inimigo: o preconceito dentro das próprias comunidades. “Os jovens não querem se assumir quilombolas, têm vergonha”, lamenta a professora Maria Sandra Caetano, uma das lideranças da comunidade de Conceição dos Caetanos, localizada no município de Tururu, distante 130 quilômetros de Fortaleza.
As casas são cortadas por uma longa avenida de terra de batida. Há uma escola e uma creche, que servem também aos povoados vizinhos. Posto de saúde ainda não tem. Energia elétrica ainda não chegou para todos. Do tempo do quilombo, o pouco que resta se perde na memória dos moradores mais velhos.
Ali residem cerca de 230 famílias, que sobrevivem basicamente da agricultura de subsistência. Deste total, estima-se que em torno de 20% sejam de quilombolas puros. O restante tem descendência quilombola, mas é fruto de casamentos de negros com brancos ou pardos vindos de outras partes. As misturas começaram a ocorrer em meados dos anos 70, com a migração de moradores para a Capital e a conseqüente venda de propriedades.
Há 30 anos, conta Sandra, eram inaceitáveis as uniões de quilombolas com outras raças. Quaisquer sinais de relacionamentos de quilombolas com forasteiros eram vistos como verdadeiros escândalos. Por isso, casamentos entre parentes aconteciam com freqüência. Na última década, contudo, virou tarefa quase impossível impedir a mistura de raças, já considerada normal pela maioria.
O fato, contudo, é visto com ressalvas até por moradores como Maria Medina Caetano Lima, ela mesma casada com um não-quilombola, com que teve três filhos. “Meus filhos são quilombolas como eu. O fato de ser só por parte de mãe não faz deles menos quilombolas”, declara.
O problema, opina Medina, é a falta de incentivos para que as novas gerações, não apenas assumam, mas também tenham orgulho de sua condição. “Não tem um projeto de valorização, que não seja só em datas comemorativas”, denuncia.
Ela se refere às comemorações pelo Dia da Consciência Negra, que coincidem com os festejos de Nossa Senhora das Graças, padroeira da comunidade. Na programação da novena, está prevista, para amanhã, uma missa afro, cujos ensaios começaram há duas semanas. A movimentação contagia a comunidade, mas o ânimo logo arrefece. “Fora isso, no resto do ano, não tem nada. O pessoal esquece das tradições”, revela. “Eu passo o que eu sei para os meus filhos, que já foi minha mãe que me passou. Mas vai se perdendo. Se continuar assim, a tendência é se acabar”, conclui.
Reconhecida, Conceição dos Caetanos é uma das 16 comunidades reconhecidas pelo Incra no Ceará. Técnicos do órgão, informa Sandra, já visitaram a região mais de uma vez para iniciar as análises referentes a concessão do título definitivo daquelas terras aos quilombolas.
O processo aberto inclui ainda a comunidade de Água Preta, também em Tururu, originada em grande parte de quilombolas egressos de Conceição dos Caetanos. Para Sandra, “a titulação das terras seria uma etapa importante para esse povo ter orgulho do que é. Mas antes é preciso que os quilombolas entendam sua importância e o que representam”.
QUILOMBOLA, EU? - Muitos jovens não aceitam origens
Tururu. Conceição dos Caetanos. Turma da 9ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Caetano José da Costa. Ao serem perguntados se sabiam quem era a personalidade que emprestava seu nome ao local onde estudavam, dos cerca de 20 alunos presentes, apenas um levanta o braço em resposta afirmativa. “Eles estão tímidos”, minimiza a diretora Hilzete Batista Bonfim, para logo depois reconhecer que está cada vez mais difícil envolver os estudantes a tomar parte no passado - e no futuro - de sua gente. “Essa meninada não quer essa ligação com os escravos, se sentem inferiores por isso”, diz ela.
Hilzete diz que, com o passar dos anos, vai se tornando cada vez mais difícil mobilizar os jovens para participar de manifestações como a missa afro. Ela lembra que, no desfile da Independência do Brasil do último dia 7 de setembro, o tema na comunidade foi a abolição da escravatura, mas ninguém queria fazer o papel dos escravos. “É um absurdo. A chamada consciência negra não pode morrer nas gerações mais velhas”, afirma. “Os escravos são vistos pelos mais novos como perdedores, quando deveriam ser lembrados pela força, pela garra”, enfatiza.
O estudante Adailton Caetano considera-se “uma raridade” entre os jovens de sua idade. Ele integra o grupo que se apresenta na missa em memória de Zumbi, durante os festejos de Nossa Senhora das Graças e ganha algum dinheiro fazendo penteados afro. “Faço o que posso, mas nem todo mundo pensa como eu; ao contrário, tem vergonha”, diz.
Um local impregnado de história, como é Conceição dos Caetanos, só consegue se fazer conhecida através de iniciativas pontuais, a exemplo do que faz a professora Fátima Ceciliana Moura. Quilombola “com muito orgulho”, ela ensina História e Geografia. “É difícil a luta para que as tradições não desapareçam. Os meninos não querem assumir suas origens”, admite.[
Era muito melhor antes, mais sossegado, diz Pedro Manoel Caetano, Agricultor

Aos 80 anos, a memória do agricultor Pedro Manoel Caetano já começa a lhe pregar peças. ´Minha cabeça está ruim´, diz com a voz quase ininteligível. A audição também já não é das melhores. A despeito das limitações impostas pelo tempo, vai para a lavoura todos os dias. A escola, não freqüentou. ´Só sei capinar´, conta.
Casado há 50 anos com uma das mulheres mais respeitadas de Conceição dos Caetanos, Maria Caetano de Oliveira, a Dona Bibiu, sua prima, Pedro está no segundo matrimônio. Do primeiro saiu viúvo, depois de sete anos de união. Filhos são 14. É com saudade que ele fala do passado. ´Era muito melhor antes, mais sossegado. Não tinha essa misturada. A gente vivia a nossa vida em paz, sem esse negócio de quilombola. Isso é coisa de agora´, resmunga.
Pedro é o mais velho de dez irmãos. Os outros vivem na Capital. ´Eu nunca quis. Fortaleza é só para passear. Bom é aqui e é aqui que eu vou me enterrar. Mas ainda vai demorar´.
CAETANO JOSÉ DA COSTA - História do fundador é conhecida por poucos
Liberto, o escravo Caetano José da Costa saiu de Pacoti, no Maciço de Baturité, em 1887 e, por 200 mil réis, adquiriu as terras onde foi fundado o quilombo de Conceição dos Caetanos. Os poucos registros oficiais sobre a história do lugar e os “causos” que contam os moradores mais antigos, como a aposentada Maria José Caetano, de 61 anos, dão conta de que ele se instalou na região ao lado da esposa Maria Madalena da Paz e dos 12 filhos.
As posses da família, além das terras, incluíam apenas um animal de carga, um tear e um caixão de madeira, onde era armazenada farinha de mandioca. Aos poucos, primos e outros parentes chegaram ao local. Os casamentos eram realizados entre primos e a presença branca, nula.[
Quase não há documentos da época, apenas um caderno, manuscrito, redigido a partir de contribuições de estudantes. “Uma das nossas maiores dificuldades é reconstruir as origens dessas comunidades. A memória delas não é preservada”, ressalta a antropóloga Marta Magalhães.
QUILOMBOLA – O QUE SÃO: Local isolado, formado por escravos negros fugidos... Esta talvez seja a primeira idéia que vem à mente quando se pensa em quilombo. Se pedirem um exemplo, o Quilombo de Palmares, com seu herói Zumbi será certamente a referência mais imediata.
Essa noção remete-nos a um passado remoto de nossa História, ligado exclusivamente ao período no qual houve escravidão no País. Quilombo seria, pois, uma forma de se rebelar contra esse sistema, seria onde os negros iriam se esconder e se isolar do restante da população.
Consagrada pela “História oficial”, essa visão ainda permanece arraigada no senso comum. Por isso o espanto quando se fala sobre comunidades quilombolas presentes e atuantes nos dias de hoje, passados mais de cem anos do fim do sistema escravocrata.
Foi principalmente com a Constituição Federal de 1988 que a questão quilombola entrou na agenda das políticas públicas. Fruto da mobilização do movimento negro, o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) diz que:
Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos.”
A concretização desse direito suscitou logo de início um acalorado debate sobre o conceito de quilombo e de remanescente de quilombo. Trabalhar com uma conceituação adequada fazia-se fundamental, já que era isso o que definiria quem teria ou não o direito à propriedade da terra.
No texto constitucional, utiliza-se o termo “remanescente de quilombo”, que remete à noção de resíduo, de algo que já se foi e do qual sobraram apenas algumas lembranças. Esse termo não corresponde à maneira que os próprios grupos utilizavam para se autodenominar nem tampouco ao conceito empregado pela antropologia e pela História.
A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), na tentativa de orientar e auxiliar a aplicação do Artigo 68 do ADCT, divulgou, em 1994, um documento elaborado pelo Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras Rurais em que se define o termo “remanescente de quilombo”:
Contemporaneamente, portanto, o termo não se refere a resíduos ou resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica. Também não se trata de grupos isolados ou de uma população estritamente homogênea. Da mesma forma nem sempre foram constituídos a partir de movimentos insurrecionais ou rebelados, mas, sobretudo, consistem em grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar.”
Deste modo, comunidades remanescentes de quilombo são grupos sociais cuja identidade étnica os distingue do restante da sociedade.
É importante deixar claro que, quando se fala em identidade étnica, trata-se de um processo de auto-identificação bastante dinâmico, e que não se reduz a elementos materiais ou traços biológicos distintivos, como cor da pele, por exemplo.
A identidade étnica de um grupo é a base para sua forma de organização, de sua relação com os demais grupos e de sua ação política. A maneira pela qual os grupos sociais definem a própria identidade é resultado de uma confluência de fatores, escolhidos por eles mesmos: de uma ancestralidade comum, formas de organização política e social a elementos lingüísticos e religiosos.
Esta discussão fundamentou-se também nos novos estudos históricos que reviram o período escravocrata brasileiro, constatando que os quilombos existentes nessa época não eram frutos apenas de negros rebeldes fugidos. Eram inúmeros e não necessariamente se encontravam isolados e distantes de grandes centros urbanos ou de fazendas.
Esses estudos mostraram que as comunidades de quilombo se constituíram a partir de uma grande diversidade de processos, que incluem as fugas com ocupação de terras livres e geralmente isoladas, mas também as heranças, doações, recebimentos de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior de grandes propriedades, bem como a compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após sua abolição.
O que caracterizava o quilombo, portanto, não era o isolamento e a fuga e sim a resistência e a autonomia. O que define o quilombo é o movimento de transição da condição de escravo para a de camponês livre.
Tudo isso demonstra que a classificação de comunidade como quilombola não se baseia em provas de um passado de rebelião e isolamento, mas depende antes de tudo de como aquele grupo se compreende, se define.
Atualmente, a legislação brasileira já adota este conceito de comunidade quilombola e reconhece que a determinação da condição quilombola advém da auto-identificação.
Este reconhecimento foi fruto de uma luta árdua dos quilombolas e seus aliados que se opuseram às várias tentativas do Estado de se atribuir a competência para definir quais comunidades seriam quilombolas ou não. O auto-reconhecimento garantido no Estado do Pará desde 1999 (Decreto nº 3.572, de 22 de julho de 1999) só foi estabelecido na legislação federal em novembro de 2003, através do Decreto nº 4.887.


Grupo 9: Ana Cláudia Müller, Andreia Bueno, José Roberto S. C. Sobrinho (moderador), Lindiara Hagemann, Maira Farinon.

"A Invenção da Infância" - Grupo 1

  A rotina atarefada de crianças ricas nas metrópoles em contraste com o dia-a-dia de trabalho e estudo de meninos pobres do sertão brasileiro. De um lado crianças sobrecarregadas de tarefas e cursos preparatórios para uma “vida de sucesso”, de outro, crianças sem perspectiva de futuro, sendo suas maiores preocupações o presente de extrema miséria. São estas contradições que o documentário “A Invenção da Infância”, procura nos apresentar. É visível o esforço do filme em contrapor a vida no interior brasileiro com as regiões metropolitanas. 

  A ideia de infância moderna é uma construção social característica da sociedade européia burguesa da idade moderna, sendo consolidada entre os séculos XVIII e  XIX. As próprias histórias e contos da época, como a “Chapeuzinho Vermelho”, ou a “Cinderela”, bem como outros, sofreram uma mudança drástica em seus enredos. De uma história sangrenta, onde a heroína era incentivada pelo lobo a comer e beber da carne e do sangue de sua própria avó, sendo por fim devorada pelo monstro; a história de chapeuzinho vermelho, foi alterada afim de apresentar um final feliz e uma moral educativa para crianças. Pioneiros nesta releitura de lendas medievais foram, Jacob e Wilhelm Grimm, que influenciados pelo romantismo e a idealização da infância no século XIX, reconstruíram lendas como a “Branca de Neve”, “Cinderela”, “João e Maria”, “Rapunzel”, “Chapeuzinho Vermelho” etc.

  Até mesmo o ato da própria mãe amamentar o seu bebê, apenas se tornou algo louvável na sociedade burguesa européia. Era inimaginável para uma mulher de origem nobre amamentar de seu próprio seio seus filhos, para isso existiam as servas. No Brasil, aconteceu algo parecido no período imperial, onde haviam um lucrativo mercado de amas de leite escravas que eram compradas ou alugadas por famílias ricas para amamentar seus filhos.

  Fato é que a infância tal como pensada atualmente, é um construção cultural relativa a nossa sociedade. E que vai se alterando ao passar dos anos. Décadas atrás em nossa região, onde tradicionalmente a cultura agrícola é familiar, era normal crianças ajudarem seus pais na lavoura; hoje este ato seria considerado trabalho infantil. Assim também como as recentes leis que proíbem pais de punirem seus filhos fisicamente, que alteraram os modos de educação infantil que predominavam até anos atrás.

  Contudo, com relação aos cotidianos apresentados pelo documentário, de crianças ricas da cidade e de crianças pobres do interior, o que diferencia de fato suas vidas, não é exatamente a noção de infância que suas comunidades possuem, mas sim, as diferenças sociais impostas pelas suas classes. Prova disso é que, os organizadores do documentário não precisariam ter viajado para o sertão brasileiro para encontrar crianças extremamente pobres que são obrigadas a trabalhar para ajudar nas despesas da família. Um volta pelos bairros pobres das mesmas cidades metropolitanas, já seria suficiente para explicitar diferenças entre a vida de crianças pobres e ricas no Brasil.

Grupo 1: Vinícius Finger (Mediador), Mariza Konzen.

DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos e outros episódios da história cultural francesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Global, 1988.

PERROT, Michelle (org). Da Revolução Francesa à Primeira Guerra. In: História da vida privada. v. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

sábado, 14 de maio de 2011

Nem tudo o que aparenta é real


Para entender o que acontece em uma sociedade, precisamos estar nela. As informações que obtemos por meio de livros, internet ou outros veículos são carregadas com as impressões de quem vivenciou aquela experiência. Se observarmos sem estarmos no meio, não teremos o mesmo conhecimento de quem vive aquela rotina. Não interferindo, mas estando no local.

Nossa mente nos leva a definir conceitos para coisas que vemos, de forma que as generalizamos. As pessoas são definidas pelo coletivo, não de forma individual, o que faz com que a realidade seja conceituada erroneamente. Nem todo brasileiro gosta de arroz com feijão. Não são todos os gaúchos que gostam de churrasco. Não é porque a pessoa é do norte do Brasil que ela estudou menos. O coletivo, o lugar onde estamos, não diz o modo como pensamos e não definem, obrigatoriamente, as nossas atitudes.

A pessoa pode morar no interior de Minas Gerais, mas se identificar com a cultura de um país da África, por exemplo. Não é por estar presa aquele espaço geográfico que ela será igual as outras pessoas que estão lá. Porém, se ela só conhecer a realidade do outro país por depoimentos de outras pessoas, e não tiver presenciado os acontecimentos, esta pessoa pode estar sendo enganada pelas aparências. Como saber como o povo convive se não convivermos com ele?

Outro ponto para poder conhecer a realidade de outra cultura é o que nos é familiar. Se ficarmos comparando como são as coisas aqui e como são no lugar em que estamos observando, nosso pensamento ficará preso ao lugar de origem. Para entrar de cabeça na situação, é necessário se despir dos conceitos e recomeçar do zero, como se qualquer coisa fosse nova. O que, de certa forma, será.

Grupo 8: Laura Gomes, Thamires Waechter, Vanessa Costa, Juliana Eichwald e Jonara Raminelli

terça-feira, 10 de maio de 2011

Criança, Jovem, Adulto, Idoso.


Na aula do dia 04 de maio, assistimos o filme A Invenção da Infância, da diretora Liliana Sulzbach. Com depoimentos de crianças de diferentes regiões do Brasil e diferentes classes sociais, o filme deixa claro que o fato de um ser humano ter pouca idade, sendo denominado criança, não está necessariamente relacionado a ele possuir ou não infância, demonstrando também de onde vêm essa noção, essa construção de pensamento que adquirimos ao longo da vida.

Como após o término do filme discutimos sobre os termos que usamos normalmente para classificar os seres humanos de acordo com sua idade, nós achamos interessante abordar os outros significados que são atribuídos a esses termos fazendo uma relação com um dos primeiros textos que vimos na disciplina, A Sociedade Como Sistema de Significação.

Por exemplo, como foi falado em aula, a juventude deixou de ser apenas um período da vida de uma pessoa e virou uma espécie de conceito, característica ou qualidade. Quando uma pessoa de quarenta anos diz pra outra da mesma idade que ela está jovem, esta pode receber o comentário como um elogio, pois a palavra jovem assume um significado relacionado a beleza levando em conta a ideia de que uma pessoa de vinte anos é mais bonita do que uma quarenta. Nesse mesmo pensamento quando uma pessoa que já passou da “infância” é chamada de criança ela pode estar sendo chamada de boba, que aos olhos de adultos pode ser uma das características de uma criança. Ou ainda quando uma pessoa mais nova, seja ela criança ou adolescente é chamada de adulta pode significar que ela é mais responsável do que normalmente as pessoas da sua idade são. Finalmente então quando um adulto é chamado de velho ele pode achar que está sendo chamado de inútil ou doente, como se todo velho fosse isso.
Enfim, é interessante como palavras adquirem diversos significados a partir das características das pessoas que elas descrevem assim como mostra o filme e os termos que citamos que além de se relacionarem com a idade da pessoa podem significar algum aspecto moral ou físico.


Grupo 9: Ana Cláudia Müller, Andreia Bueno, José Roberto S. C. Sobrinho (moderador), Lindiara Hagemann, Maira Farinon.