quarta-feira, 8 de junho de 2011

Antropologia e Religião



A Antropologia é a ciência que estuda a humanidade em todas suas dimensões. Uma de suas divisões é a Antropologia Cultural, disciplina que cursamos e que engloba inúmeros aspectos que formam a cultura do homem. Um deles é a religião (do latim: “religio”, usado no texto Vulgata Editio, que significa “prestar culto a uma divindade”, “ligar novamente”, ou simplesmente “religar”), assunto que sempre despertou interesse nos antropólogos e cientistas sociais e que tem grande influência na história da humanidade. A religião interfere diretamente no comportamento do homem e na organização da sociedade, ela já foi e é responsável por guerras no mundo inteiro e é um dos fatores relacionados diretamente à origem dos grupos étnicos. Portanto nada mais interessante e instigante do que se aventurar pelos mistérios das crenças no sobrenatural existentes na cultura do homem.


Segundo registros arqueológicos a religião é um aspecto universal presente na cultura desde o período Paleolítico Superior em que o homem Neandertal enterrava seus mortos com oferendas indicando assim uma crença no sobrenatural. Caracterizada por cultos e rituais, é por meio dela que o homem tenta estabelecer contato com seres espirituais, divindades e tudo que ele não pode detectar com seus sentidos ou comprovar cientificamente.



A crença e o ritual são os dois elementos que constroem a Religião, ou seja a crença deve estar associada a prática para que possamos reconhecer uma religião.

A crença, ou fé, é a reverência e a aceitação da superioridade do sobrenatural, e o ritual, ou prática, é a manifestação desses sentimentos por meio de ações padronizadas com uma determinada finalidade. Dentre essas ações estão as orações dirigidas aos seres sobrenaturais feitas pelos adeptos do culto podendo ser de louvação, súplica ou agradecimento, demonstrando a atitude de subordinação do crente, como por exemplo as orações do cristianismo. As oferendas onde os fiéis oferecem alguma coisa às divindades também como forma de agradecer, louvar ou pedir algo em troca, como na festa de Iemanjá onde são oferecidas flores, comidas, bebidas e jóias normalmente em pequenos barcos de madeira na beira do mar por ela ser conhecida como a deusa das águas e mares. E as manifestações que são um conjunto de atividades geralmente acompanhadas de cantos e de músicas como as procissões católicas ou as danças indígenas e do candomblé também com objetivos de comunicação com os seres espirituais.




No que diz respeito à história das religiões, sua doutrina e suas regras, podemos observar o uso de livros escritos por antigos personagens dessas mesmas religiões. Esses livros, mais comuns nas religiões monoteístas, servem como manual de comportamento e, mais importante, como modo de contar a história do culto, de como as coisas teriam acontecido num passado distante e como teria surgido a crença em suas respectivas divindades, seus autores teriam recebido revelações divinas para escrevê-lo. Como exemplos mais conhecidos temos a Bíblia do Cristianismo e o Alcorão do Islamismo, outros exemplos são o Torá do Judaísmo, o Rig Veda do Hinduísmo, o Mahabharata do Bramanismo e etc.


O culto é uma série de atos que tem por finalidade venerar ou se comunicar com divindades, é um conjunto de crenças e rituais. Dentro de um culto existem um grande número de objetos sagrados os quais são adorados ou utilizados nos rituais. As imagens são representações das divindades que são cultuadas podendo ter forma humana, animal, humana e animal ou nenhuma forma determinada, como por exemplo os deuses egípcios, orixás de Candomblé, Santos Católicos e etc. Os objetos rituais são os objetos usados nos cultos, tanto os de uso comum como os especialmente confeccionados para os rituais como por exemplo os atabaques, colares e trajes de Umbanda. Menos usuais mas também presentes, as máscaras também são utilizadas, simbolizando autoridade e prestígio, elas podem ter diferentes formas representando homens, animais ou os seres sobrenaturais cultuados.


Variando muito de uma sociedade para outra, as normas religiosas de comportamento se tornam mais evidentes nos momentos de crise ou de grandes mudanças como no nascimento, na adolescência, no casamento, na enfermidade, na fome, na morte e etc. Para todos esses momentos existem vários tipos de ritos como os de iniciação, de transição e de intensificação.


Nos ritos de iniciação são feitas cerimônias por ocasião da passagem da idade, quase sempre de jovem para adulto, onde os participantes são submetidos a provas de resistência para demonstrar sua maturidade. Diversos grupos indígenas utilizam esse processo como por exemplo o Wai'a, processo de iniciação dos jovens masculinos Xavante que acontece de quinze em quinze anos onde os homens aprendem a se comunicar com os espíritos através de cantos e danças desenvolvendo sua vocação espiritual. O processo é longo e envolve uma série de atividades algumas bem penosas e muitos rituais.


Mais conhecidos, os ritos de transição podem se dividir em quatro principais momentos que servem para marcar a mudança do estado social do indivíduo e que também podem variar de uma sociedade para outra. O nascimento quando a criança nasce e recebe uma benção e um nome como no batizado católico. A puberdade quando jovens se tornam aptos para procriação e são submetidos à diversos rituais tais como danças, proibições, missões, jejuns, dependendo de sua religião. O matrimônio, atividade socialmente aprovada relativa a união de dois seres humanos perante seus superiores sobrenaturais. E a morte, quando é feita uma cerimônia ou um funeral por ocasião do falecimento de alguém Dependendo da religião e do status do morto será o ritual, como exemplo temos o velório seguido pelo enterro feito no cristianismo onde o padre faz uma série de orações de despedida e passagem para outra vida.





Os rituais, cultos e cerimônias não podem ser realizados por qualquer um, existem pessoas qualificadas ou escolhidas como sacerdotes, oráculos e chefes religiosos que, segundo as doutrinas dos cultos, tem uma espécie de permissão divina para realizar tais tarefas. Essas pessoas representam o intermediário entre os homens e os deuses.




Existem dois tipos de lugares de grande valor para as religiões, os Santuários, conhecidos como templos e igrejas onde os sacerdotes realizam os rituais e os fiéis se encontram para rezar e realizar todos tipos de atividades de sua religião, muitas vezes é tido como a morada de sua divindade. E os Lugares Sagrados que também são vistos como a morada dos espíritos ou deuses e se localizam nas mais diversas localidades como montanhas, bosques, rios e até cidades inteiras, são considerados sagrados por motivos como a passagem de alguém considerado divino pelo lugar e são visitados em ocasiões especiais quando são celebradas cerimônias. Um exemplo de um lugar como esse é o Monte Olimpo na Grécia, considerado morada de deuses e constantemente visitado por turistas e adeptos de crenças.




No universo da cultura e da religião existe uma dualidade muito importante, o Sagrado-Profano. Na mente das pessoas o sagrado e o profano são duas maneiras de como as coisas podem ser. O Sagrado é tudo que é objeto de interdição e o profano é onde essas interdições se aplicam ou seja, são diferentes, um se opõe ao outro. O ser sagrado não pode ser violado, ele tem uma espécie de proteção divina para que acredita nele e com qualquer contato indevido acontece sua profanação, o desaparecimento de todos atributos que constituem sua sacralidade. Por exemplo imagens sagradas que não podem ser tocadas sob pena de castigos divinos. Também para os adeptos dos cultos existe um conjunto de atitudes obrigatórias que devem ser observadas diante desses objetos e outras que se deve evitar como dentro de uma Igreja católica onde se tem atitudes padrões tomadas pelos fiéis como o sinal da cruz.


Devido a essas duas condições se configura o tabu. O tabu é uma espécie de interdição, ele isola tudo que é sagrado, proibido ou impuro. “A característica principal do tabu é a de que não existem mediações entre a transgressão e a punição, derivando a segunda automaticamente da primeira” (RODRIGUES, p. 26).


É importante lembrar que assim como estudamos no texto A Sociedade Como Sistema de Significação, do livro Tabu do Corpo (Rio de Janeiro, Achiamé, 1983) de José Carlos Rodrigues, a religião é um sistema de representação com diversos processos significantes e para os seus adeptos, os objetos e imagens sagradas sejam elas estátuas, árvores ou trajes, não são adoradas ou temidas pelos simples objetos que são, mas porque representam o sagrado ou seja, a imagem do santo não é vista apenas como uma representação para o crente, mas sim o santo em si.


A Religião sempre esteve dentro da cultura do homem, desde cedo ele aprendeu e desenvolveu crenças em seres sobrenaturais. E uma das mais visíveis funções dessas crenças é a de explicar o inexplicável, criando uma razão para a existência da humanidade e seres superiores aos seres humanos. E também algo além do corpo físico e de tudo que podemos detectar com nossos sentidos ou explicar cientificamente, se pesquisarmos, encontraremos vários nomes para isso: alma, espírito, aura, chi e etc. Qual das crenças pode ser verdade, o que é essa verdade e se até os dias de hoje isso ajudou ou criou mais problemas para a humanidade é difícil de saber, mas de fato a religião foi e é um dos fatores que mais influenciam o comportamento e a organização social dos seres humanos.



Referências Bibliográficas:

MARCONI, Marina de Andrade & PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia Uma Introdução, São Paulo: Atlas S.A. 2006.

RODRIGUES, José Carlos. Tabu do Corpo, Rio de Janeiro: Achiamé, 1983.

Para mais informações e textos relacionados à este assunto consulte os links abaixo:





Grupo 9: Ana Cláudia Müller, Andreia Bueno, José Roberto S. C. Sobrinho (moderador), Lindiara Hagemann, Maira Farinon.

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