quarta-feira, 8 de junho de 2011

Grupo 7: Tirar da cabeça, minha gente, e botar no papel

 É nessa perspectiva que se fundamenta toda a construção ficcional do filme Narradores de Javé, isto é, um povoado prestes a ter seu vilarejo inundado pelas águas de uma represa, percebe que o único modo de impedir o acontecimento era com transformação do local em um patrimônio da humanidade. Assim os moradores do vilarejo, precisarão narrar suas histórias para “o grande livro da salvação” e demonstrar por meio destas, “grandiosidade” do lugar, no intuito de evitar que o pior aconteça: a desapropriação das terras de Javé para a construção de uma barragem.
O único adulto alfabetizado de Javé, Antônio Biá é o incumbido de recuperar a história e transpor para o papel de forma "científica" as memórias dos moradores.
Mas Biá tinha sido banido de Javé pelos moradores do vilarejo, por ter difamado praticamente todos com fofocas escritas sobre os moradores através de cartas que ajudaram a salvar seu emprego nos Correios locais. Mas no desespero a população acaba o escolhendo para escrever o "livro da salvação", como eles mesmos chamam.
Dando esta oportunidade do escrivão se redimir. A partir daí, Biá passa a ir de casa em casa na região para passar para o papel as lendas guardadas nas cabeças dos moradores de Javé. O único problema é que cada morador conta uma história diferente, e sempre defendendo os interesses de seus antepassados.
Na coleta do primeiro relato "javélico", Biá diz à sua "fonte": "uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito". Esse pequeno conjunto de elementos já é suficiente para apontar a isenção e a imparcialidade impossíveis à História e ao historiador. O filme se desenrola com a difícil tarefa para Biá: reunir uma história a partir de cinco versões diferentes - uma multiplicidade de fragmentos, memórias incompatíveis entre si. O personagem se vê entre essa impossibilidade e um futuro/progresso destruidor e irremediável.
O filme é brilhante, ganhou os prêmios principais nos Festivais do Rio e de Recife, onde em ambos o trabalho, não menos magnífico, de José Dumont foi premiado. Dumont é a alma do longa, onde pode treinar toda sua capacidade de improvisação. Praticamente todas as marcantes falas de Biá, como “piaba de silicone”, “tapioca de exu”, “manicure de lacraia”, “pokemon de Jesus”, “omelete de cupim”, “desinteria de tinta”, “um dilúvio bovino”, “clonado de miolo de pão”, entre outras, foram criadas pelo próprio ator.(...).Ao mostrar o confronto entre o progresso e as tradições de um lugarejo, o filme ainda se preocupa em citar o problema das terras em nosso país, onde os primeiros habitantes demarcavam, por si mesmos, a extensão de suas propriedades.

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