quarta-feira, 6 de abril de 2011

A Sociedade como um Sistema de Significação. Grupo 5

As diversas ciências e saberes que se propõem a analisar o homem e seu meio, o pensam em suas características naturais e em situação social, logo, de cultura. Duas perspectivas conceituais são adotadas nesse sentido: uma é a noção de "necessidade" e outra é a idéia de "desejo". O homem, como ser natural, é puro sentimento de si, isto é, em-si – ele é oposição alienante ao mundo, esgotando-se no objeto de contemplação – sua certeza não ultrapassa o nível da certeza sensível[2]. O que essa contemplação revela é o objeto e não o sujeito[3].
É a partir do desejo (Beigerde) que o sujeito começa a se constituir, pela assimilação/supressão do objeto desejado. Essa ação é uma ação "negatriz", pois, objetiva uma transformação/incorporação do objeto para a satisfação do desejo. Nessa fase o homem passou da Consciência para a Autoconsciência – ele não apenas se opõe a tudo que lhe é exterior como também tem consciência dessa oposição. Ele agora é um "para-si".
O desejo não possui uma direção objetual específica, não possuindo um conteúdo positivo particular, e, o que essa contingência do objeto evidencia, em análise última, é sempre, pois, uma falta, um vazio original que se manifesta como "estrutura estruturante" do próprio desejo e, por conseguinte, do homem enquanto tal. Essa falta original é que permite ao homem sua extrema adaptabilidade em seu meio, diante da permanente contingência da realidade à qual está inserido. O desejo, para que deixe de ser natural, tem de desviar sua inclinação das coisas naturais, dos objetos naturais enquanto dados imediatos do real, ou seja, do real enquanto ‘'coisa''propriamente, natural. Ora, a única realidade que apresenta essa característica é o próprio desejo[4]. Dessa maneira o homem só se torna propriamente humano quando seu desejo de "para-si" se volta para um outro desejo de "para-si", superando desejo animal, elevando o homem ao estágio de "em-si e para-si", permitindo-lhe todo processo de transformações daí decorrentes.
A síntese da dialética entre dois "em-si e para-si" é, pois, a própria sociedade, a própria cultura enquanto obra e manifestação dessa sintaxe, permitindo o curso do processo histórico. Essa rede de articulações, nessa sintaxe que constitui o próprio sujeito, é designativa de uma ordem constituidora, engendrada, de que tratar-se-á mais à frente – a chamada Ordem Simbólica.[5] O homem é um ser gregário, forma grupos no interior dos quais estabelece suas relações, suas práticas, dentre elas a reprodutora, inerente a preservação da própria espécie. Como pudemos ver anteriormente, esse homem é marcado por uma falta essencial, que lhe permite adaptar-se ao meio, negando o próprio objeto, constituindo-se como efetivamente humano, transformando a realidade através de suas produções. Pois bem, é dessa falta, que gera um desamparo original, de que trataremos agora. Ela é, pois, o estribo do desejo e estruturante de ordem simbólica, portanto do humano.
O homem advém, ele nasce de uma relação social, em que já está intrínseco certa concomitância entre seus membros, e uma divisão social do trabalho – a própria pratica reprodutora. Esse indivíduo nasce dentro de uma determinada constituição social, primitiva ou não, mas gregária, em que receberá cuidados necessários à manutenção de sua vida, dado ao seu desamparo fundamental, sua impossibilidade de prover por si só os recursos indispensáveis às suas demandas, à sua sobrevivência. Esse ser nasce dentro de uma ordem, dentro dessa ordem, mas não tem consciência de nela estar – é, pois, um indivíduo, mas não um sujeito.
O recém-nascido recebe sua alimentação, tendo a "dor", desencadeada pela necessidade (fome), sendo aliviada pela ingestão do alimento, gerando uma experiência de satisfação:
Daí por diante, uma imagem mnemônica permanece associada ao traço de memória da excitação produzida pela necessidade, de tal forma que na vez seguinte em que a necessidade emerge, surgirá imediatamente um impulso psíquico que procurará recatexiar a imagem mnemônica da percepção e reevocar a própria percepção, isto é, restabelecer a situação original de satisfação. Um impulso dessa espécie é o que chamamos de desejo (FREUD apud ROZA: 2004, p145).


"Tudo fornece um sentido, senão nada tem sentido" (Claude Lévi-Straus)

Bibliografia de apoio:

1- BARTHES, Roland. Mitologias. Ed. Difel/ Editora Bertran Brasil LTDA, 2003. Rio de Janeiro, RJ.
2- FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Imago, 2002. Rio de Janeiro, RJ.
3- GARCIA-ROZA, Luiz Alfred. Freud e o Inconsciente. Ed. Jorge Zahar, 20ª Ed. Rio de Janeiro, RJ.
4- HEGEL, G.W.F. A Fenomenologia do Espírito. Ed. Vozes, 2a ed. Petrópolis, RJ.
5- LACAN, Jacques. A Instância da Letra no Inconsciente ou a Razão desde Freud in: Escritos. Ed. Jorge Zahar, 1998. Rio de Janeiro, RJ.

Lucas Dion Kist (Moderador), Julia Ipê, Larissa Assis, Júllian R. Fischer e Cássio Souza.

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