quarta-feira, 6 de abril de 2011

Padres, xamãs e aniversariantes

  Diante da ilógica natural, a humanidade cria e impõe uma ordem de significados, que expande o controle da sociedade à natureza ou seria retirada da própria natureza elementos espinhais de uma ordem social? E se assim fosse, quais seriam estes elementos? É apenas o fato de que estudiosos como Mallinowski, Durkheim, Brown, entre outros, não conseguiram dar respostas definitivas a estas perguntas, que justifica a incapacidade deste grupo, neste blog, de produzir respostas satisfatórias. Contudo, nada nos impede de tecer alguns comentários.
  Freqüente em estudos sobre sociedade e cultura, é a ideia  de uma “rede” de significados que ordenam e limitam as relações sociais. Não seria estranho, neste sentido, a definição da cultura como uma “jaula” onde os não alinhados - aprisionados - seriam marginalizados ou excluídos. Embora, deve-se observar que esta jaula possuiria grades maleáveis e constantemente mutáveis devido a pressão dos movimentos culturais de determinada sociedade. Assim, o sentido dado a um signo ou um ritual poderia se transformar ao longo do tempo. O que, no caso dos rituais, explicaria a necessidade de sua constante repetição. Vamos tentar um exemplo claro, o ritual moderno da “festa de aniversário”. 
  A festa de aniversário como é entendida na nossa sociedade atual, compreende uma série de signos e ações significativas que a definem. O bolo, as velas indicando a idade do sujeito, os balões etc., constroem a ideia de um aniversário. Sem estes e outros signos, o propósito da festa perderia o sentido. Que exemplo melhor neste sentido, do que o ritualístico ato conjunto de cantar a mais conhecida musica no ocidente, o “Parabéns pra você!”. A musica, que é completada pelos aplausos ao aniversariante é a maior indicação de que naquele determinado dia, tal pessoa ficou mais velha. A festa de aniversário sendo um ritual de comemoração à vida do individuo, exige que seja comemorada constantemente, ano após ano, marcando a sua vivência.
  Algumas formas ritualísticas exemplificam melhor o poder dos sentidos culturais na ordenação da vida humana, este é o caso do xamanismo. Ao descrever um ritual de cura em uma tribo indígena, Lévi-Strauss apresenta a ideia de que o xamã ao dar significações culturais para os sintomas do doente, possibilita a normalização da dor. Além de que, na medida em que o xamã contrapõem símbolos protetores ante aos males que causam o sofrimento, ele dá ao que sofre modos de combater a doença através de sua própria cultura.
  Há um exemplo contemporâneo, se não similar, aproximado desta ocorrência. No inicio do mês de junho do ano passado, um estranho caso de histeria coletiva em uma escola do município de Itatira no Ceará, ganhou destaque nacional. Um grupo de alunas testemunhou ter visto ou sentido a presença de um estudante da escola que havia falecido recentemente. Estas ocorrências levaram a direção da escola a chamar um padre para orientação dos alunos e realizar uma benção na escola. Para espanto geral, em meio a benção do padre, varias outras meninas entraram em estado de histeria alegando estarem possuídas ou sob influência do fantasma do jovem morto.
  Deixando as explicações psicológicas de lado, é interessante observar o aumento dos “ataques” entre as alunas após a benção do padre. Podemos imaginar a forma que é interpretada a ida do padre a escola pelos alunos, com toda a simbologia sagrada que envolve sua pessoa para uma comunidade católica, como uma espécie de oficialização de que algo “espiritual” de fato ocorria entre os alunos. Explicando o fortalecimento da convicção dos alunos da presença de um fantasma entre eles e a continuação dos ataques de histeria. Neste caso, além de uma simples fenômeno psicológico, esta histeria coletiva é também uma manifestação social possível dentro da lógica da cultura religiosa brasileira.

CHARTIER, Roger. O Mundo como Representação. estudos Avançados. São Paulo, vol.5, n. 11,p. 173-191, Jan./Apr. 1991.
GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
LÉVI-STRAUSS, Claude. O cru e o cozido. São Paulo: Brasiliense, 1991.
http://www.overbo.com.br/transe-coletivo-e-definido-como-histeria-coletiva-por-psicologa/

Grupo 1

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