quarta-feira, 27 de abril de 2011

Construindo uma identidade - Narradores de Javé - GRUPO 1

  O filme aborda diversos temas como a formação cultural de um povo, suas heranças históricas, suas crenças, valores, memória e identidade. Tudo isso apresentado através de uma narrativa rica que dá ênfase a construção de uma história oral. Relativizando a ideia de divisão entre o presente e passado. O maior mérito da obra é exatamente, a explicita falta de definição do que é história e do que é presente, onde verdade e mentira são conceitos ultrapassados.
  Um aspecto forte que o filme traz e que remete à história do Brasil é o acesso à terra,  direito que é continuamente usurpado por outra forma de relação com a terra introduzida nesse continente pelos europeus desde os primórdios da colonização. Os habitantes de Javé não possuíam nada mais do que a própria voz e a qualidade de seus versos, para comprovar o que era seu pedaço de chão. A terra, cujos limites eram cantados, porque, como organismo vivo escuta e sente, respondendo aos anseios da vida das pessoas que a cultivam e que nela habitam com reverência. Sem sua terra, que fica imersa sob toleradas de água, aos habitantes de Javé - agora sem-terra - fica apenas sua identidade, simbolizada pelo seu precioso sino de ferro.
  Os relatos em tom mítico dos moradores que não conseguem se entender entre suas versões, os “causos” contados sobre a suposta verdade da fundação de Javé, e o mito fundador de Indalécio e de Mariadina, refletem as formas de construção identitárias e sua relação com a cultura de uma comunidade. A narrativa do filme, explicita a indiferença que conceitos como verdade ou mentira possuem na construção cultural. Se Indalécio era um herói quilombola (aos modos de Zumbi), líder bélico luso-brasileiro ou ainda, homem fraco que morreu de desinteria (aos modos de Dom Pedro I), de certo modo não importa. A "verdadeira cara" de Indalécio é a imaginada pela comunidade local, pois será está interpretação que ira ter significado aos habitantes (ou ex-habitantes) de Javé e ser significante de sua identidade.
  Curiosidade:  Os dois mil moradores de Gameleira da Lapa  (locação do filme) estavam sem coleta de lixo há onze anos e foram incentivados a não apenas recolher o lixo como a separá-lo para reciclagem. Com tudo isso, a população local passou a exigir dos órgãos competentes a coleta seletiva, o que deu início a um processo para trocar o nome da cidade de Gameleira da Lapa para Javé. Certamente o filme deu mais conta da História e seus Sujeitos do que esperava.

Fonte:
HALL, Stuart. A questão da identidade cultural. Campinas: IFCH/UNICAMP, 1995.

HALL, Stuart. Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2003.

SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia Aparecida de; SILVEIRA, María Laura (Org.). Território: globalização e fragmentação. 3. ed. São Paulo: HUCITEC, 1996.

http://www.webartigos.com/articles/24603/1/RESENHA-CRITICA---FILME-NARRADORES-DE-JAVE/pagina1.html#ixzz1Kg94Z6AC - acessada em 25/04/2011.

Componentes; Marisa Konzen, Vinícius Finger (mediador).

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