terça-feira, 12 de abril de 2011

Observando o Não-familiar

Por Andréia Bueno

“Para conhecer certas áreas ou dimensões de uma sociedade é necessário um contato, uma vivencia durante um período de tempo razoavelmente longo, pois existem aspectos de uma cultura e de uma sociedade que não são explicitados, que não aparecem à superfície, e que exigem um esforço maior, mais detalhado e aprofundado de observação e empatia” (Capítulo 9, páginas123 e 124;VELHO, Gilberto. Individualismo e Cultura)

Como colocado pelo autor de Individualismo e Cultura, Gilberto Velho é preciso, para conhecer e falar das dimensões de uma sociedade uma vivencia. Isto me remete rapidamente a experiência de um intercâmbio, e me valho aqui desta minha vivencia de um ano residindo nos Estados Unidos da América com uma família norte-americana, a qual chamava de hostfamily.

Antes de mais nada, é importante ressaltar que em 2001, quando Nova Iorque sofreu o maior atentado terrorista da história do pais e por conseqüência deste ato iniciou uma guerra (até hoje inacabada) contra o Iraque, o mundo inteiro identificava os Estados Unidos como um povo amargo, vingativo e que queria, acima de tudo, mostrar seu poder ao resto do mundo. Foi com esta visão, criada pela mídia e repassada por professores do Ensino Médio que eu embarquei rumo à Nova Iorque.

No primeiro momento, tudo parecia muito estranho e se eu levar em consideração o capítulo “Observando o familiar”, eu me sentia uma verdadeira antropóloga em um processo de pesquisa qualitativa. A cada dia uma observação, um contato direto com o universo investigado era feito. Era inevitável a busca por alguma familiaridade com o local.

A criança pela qual eu era responsável (desempenhava a função de baby-sitter na família) tinha gostos musicais e de seriados incomuns comigo. Passávamos horas baixando musicas e falando sobre Simpson e Friends. Era uma aproximação por interesses e gostos. Porém, era fácil perceber, que mesmo que estivéssemos ligados por estes interesses e gostos, como afirma Motta, o nosso conhecimento e grau de conhecimento não era homogêneo, muito contrario, era desigual.

Eu me sentia, mesmo morando dentro da casa daquela família, muito distante da cultura norte-americana. Por mais legais que eles fossem comigo, por mais que eu estivesse amando o pais e a experiência de morar lá, era como se em todos os aspectos eu estivesse aprendendo do zero. No café da manhã são comidas diferentes, almoço era um lanche rápido, as crianças não voltavam para casa, na Universidade o horário era das 10 da manhã até a 1 hora da tarde, as crianças não “precisavam tomar banho todos os dias, pizza era comida com as mãos e escolhidas por pedaços, não era servido condimentos com os lanches rápidos, cachorro-quente era composto por salsicha, pão e ketchup, os biquínis vistos na beira da praia eram o que aqui seria tamanho extra-grande, as gurias iam de pijamas da Pink (linha jovem da Victória Secret) no shopping... Enfim, era uma série de costumes totalmente diferentes daquilo que eu estava acostumada, ensinamentos diferentes daqueles que me foram ensinados.

O mais curioso era a cidade de Nova Iorque em si. Caminhar na Times Square era fascinante. O que esta escrito no texto de Gilberto Velho eu presenciei por lá: “O fato é que é dentro da grande metrópole, seja Nova Iorque, Paris ou Rio de Janeiro, há descontinuidades vigorosas entre o “mundo” do pesquisador e outros mundos, fazendo com que ele, mesmo sendo nova-iorquino, pairisiense ou carioca, possa ter experiências de estranheza, não reconhecimento ou até choque-cultural comparáveis à de viagens a sociedade e regiões exóticas”, páginas 126 e 127. Caminhar na Times Square era exatamente isto, um misto de culturas em uma mesma avenida. Nunca esqueço que o meu hostdaddy (pai hospedeiro) disse que em Nova Iorque era mais fácil encontrar pessoas vindas de outros países do que propriamente americanos. Ele próprio, por diversas vezes foi surpreendido por estilos e vestimentas tradicionais em outras culturas, mas “esquisitas” aos olhos dele.

Em ano residindo nos Estados Unidos, vivendo como uma norte-americana, foram muitas as avaliações feitas por mim sobre a cultura norte-americana. Foram diversos os paradigmas quebrados quanto aquele povo e aquela sociedade. Pré-julgamentos feitos baseados no que me era passado foram, de todas as formas deixados para trás, eu vejo, hoje, os norte-americanos como cidadãos de bem, exemplos para o desenvolvimento de uma sociedade justa, pessoas com palavra e claro, com sujeitos mal-intencionados como em qualquer pais, como em qualquer jogo onde é detectado suas exceções. Os Estados Unidos são sim uma cultura muito diferente da nossa brasileira, porém com muitos exemplos para serem tomados e muito a aprender também.

Grupo 9: Ana Cláudia Müller, Andreia Bueno, José Roberto S. C. Sobrinho, Lindiara Hagemann, Maira Farinon.

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