quarta-feira, 30 de março de 2011

"Sociedade Arte"

Bom, como o texto abordado em aula, A Sociedade Como Sistema de Significação, fala sobre a sociedade como uma construção de pensamento, como uma entidade provida de sentido e significado, achamos interessante ilustrar essas visões da mesma forma que a professora ilustrou, com arte e alguns comentários para entendermos melhor essa relação.
Seguem então duas obras de arte de René Magritte, uma já comentada em aula, e algumas considerações feitas pelo artista plástico e filósofo brasileiro Mauro Andriole:

"A pintura é a mais assombrosa das feiticeiras. Consegue persuadir-nos, através das mais transparentes falsidades, de que é a pura verdade."
Jean Etienne Liotard, Traité des principles et des règles de La peinture

Introdução
A relação entre a Arte e a Ilusão é absolutamente indissolúvel.
Somos criadores de símbolos, autores de uma ação natural que se confunde com nossa própria identidade, presente desde que nascemos e que jamais abandonamos durante toda nossa vida. Ernst Cassirer, filósofo contemporâneo, nascido em 1874 na Alemanha, define o homem como um ser simbólico, tal a importância que o símbolo exerce em nosso modo de ser.


FOTO 1
"A Condição Humana", René Magritte, 1933


 
Neste artigo, examinaremos as relações que envolvem a criação de símbolos na arte e um estado peculiar da consciência: o da ilusão.
Qual a origem da ação criadora do artista?
Se o artista, em um dado momento, é tomado pelo desejo de realização da obra, de pôr-se em correspondência com o Belo, trazendo-o à visibilidade na matéria, ele o faz a partir da apreensão simbólica de um dado que ocorre em sua interioridade.
Nela, em sua consciência, algo se ilumina, um objeto se eleva dentre todos os outros, e move-se para uma região distinta, distanciando-se da esfera ordinária onde permanecem os outros objetos do mundo. Da mera aparência vulgar, que anteriormente o igualava a todos os outros objetos, este em especial isola-se para assumir um valor paradigmático, encarnando a essência da Beleza. Ou em outras palavras ele se assemelha ao objeto de onde teve sua origem, por reter sua aparência, mas na verdade ele é outra coisa da mesma coisa, isto é, um símbolo.
O artista não encontra nenhum freio durante esta experiência, nenhum limite, seja ele de qualquer espécie, que o impeça de reter em si as qualidades significantes que iluminam o objeto.
Agora durante sua observação o artista funde-se ao objeto, apreende dele aspectos antes invisíveis, e forja-os em novas cores e formas em sua imaginação, sendo um com ele numa experimentação criativa, vívida. Isto é o que ocorre no ato da reflexão artística em si: um fenômeno da projeção da imagem - do objeto no artista e do artista para o objeto em sua consciência.
Decorre desta relação reflexiva a via para movimentar o processo do vir a ser da obra e também o do ser artista.
Este processo criativo está inteiramente banhado pelas luzes da ilusão – pois, embora o objeto na consciência tenha se transformado e assumido as vestes da beleza, nenhuma alteração ocorreu de fato no objeto a que se refere, assim, fora da experiência estética ele permanece integralmente como era antes em sua aparência e matéria.
Por outro lado, a despeito disto ser um fenômeno mental, nada impede o artista de justificar uma verdade que traz de sua experiência estética – a obra - e o valor real de seu propósito artístico: ampliar a consciência sobre aquele objeto. Ampliação esta, que se estende para o público, que a partir da contemplação da obra de arte, entra em contato com a imaginação do artista, iniciando também um processo de imaginação quanto ao objeto referido.
Deste modo, devido a complexidade que envolve compreender o processo em sua grandeza, nenhuma explicação conceitual, seja de ordem psicológica, filosófica ou sociológica poderia ser completa para abranger todas as facetas desta relação entre o artista, o objeto, a obra de arte e o público. Nenhum argumento científico, mesmo a metafísica não poderá dissuadir a consciência de que por um intervalo de tempo ela envolveu o objeto belo em si e se relacionou com ele acima das noções discursivas, pois a prova disto é que desta experimentação nasce uma nova consciência sobre a própria natureza humana: a capacidade de transcender a razão e manter relações reais com algo claramente irreal.
 
FOTO 2
Portrait d'Edward James por René Magritte
Reprodução proibida - Foundation Magritte
Rotterdam, Museum Boymans-van Beuningen


Quando um objeto, flores ou um animal, uma paisagem ou um corpo humano são vistos pelo artista, nesse mesmo instante, através da imaginação transformam-se numa outra coisa. São agora objetos da ilusão, paradoxalmente reais para ele, são agora mais do que eram simplesmente, porque revestem-se de outra matéria luminosa, estranhamente imaterial, e assumem simbologia num contexto extraordinário, íntimo, que dialoga com seu imaginário de artista.
Assim, o processo do vir a ser belo, seja o da flor, da paisagem, do corpo humano - no curso livre de sua efetivação estética, tornam-se um outro objeto – exposto na obra - encerrando a potência de uma ilusão encantadora.
E assim, ainda que ela, a obra, retenha em si a aparência de uma flor, de uma paisagem ou de um corpo humano, ela é em verdade apenas representação, a ilusão de ser o objeto da experimentação do artista. Isto porque ela dissimula materialmente ser o que de fato era imaterial e portanto, não passa de um simulacro ilusório, um encantamento luminoso capaz de evocar na imaginação do público formas emocionais semelhantes as que sentiu o artista.


Mauro Andriole
31 Julho 2010

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Esperamos que os textos tenham ajudado a compreender os assuntos tratados em aula. De certa forma, a sociedade é como uma obra de arte, a ela o homem atribui sentidos, constrói significados a partir de códigos e informações, tanto consciente como inconscientemente, e passa a se relacionar com a mesma.

Fonte:

Grupo 9: Ana Cláudia Müller, Andréia Bueno, José Roberto S.C. Sobrinho (moderador), Lindiara Hagemann, Maira Farinon.

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