segunda-feira, 21 de março de 2011

“E o que é que deu? Funk na cabeça” ♫

O documentário Funk Rio, produzido em 1994, sob a direção de Sérgio Goldenberg, mostra o universo do Funk e seu código estético e cultural.

A classe social, o modo diferente de dançar, falar e vestir, as brigas como ritual de afirmação, e a música em si, são características peculiares do Funk. Entram aí as ligações com a marginalidade. A herança cultural condiciona o homem a basear o comportamento do outro em sua própria convenção cultural. Por exemplo, presenciar funkeiros amontoando-se e dançando livremente na pista, enquanto brigas acontecem ao lado, pode ser sufocante. Imaginar-se participando disso pode ser assustador para alguém que não pertence a esse meio.

O mundo é composto por várias sociedades, cada uma com seus “rituais”. E como a cultura condiciona a visão de mundo do homem, faz-se pensar que seu modo de vida é o mais correto, havendo assim, uma discriminação com os que são diferentes.

Segundo Roque de Barros Laraia, “o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural” e à propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural chamamos etnocentrismo. Reconhecer que sua “tribo” não é o centro da humanidade não o enriqueceria muito mais do que o discurso superficial “o que é diferente não me serve”?

O Funk é uma cultura antiga. No Brasil ele chegou na década de 70 e trouxe o hit norte-americano como tendência. O ritmo que até então estava instalado no estado Carioca, hoje anima festas em todo o país. Embora esteja concentrado e incorporado principalmente nas favelas e bairros mais pobres de diferentes comunidades, o gosto pelo novo som chegou até às classes mais privilegiadas da sociedade brasileira.

É engraçado! Nós gaúchos, distantes daquela realidade, enxergamos o Funk do Rio, como um evento do crime organizado e do tráfico de drogas. É isso que vemos na tevê, não é mesmo? Mas será que é assim? Mas e o funk aqui? No playlist de qualquer festa ele vai tocar, porém, sua preferência, independente do lugar, vai estar ligada a uma esfera menos favorecida. Infelizmente! Ou alguém conhece um membro da alta sociedade que curte a badalação das batidas? É apenas uma cultura. Muitas vezes não é nem uma questão de preferência, mas de tradição.

Fazendo uma comparação do funk do início dos anos 90, retratado no documentário, com o dos dias de hoje, percebe-se que a essência não mudou. No entanto, fica cada vez mais usado como uma resistência às milícias. Principal alvo da polícia, do baile funk nasceu o "proibidão". O nome foi dado para se referir a esta expressão musical, que através das letras reflete a violência e os enfrentamentos entre traficantes e policiais nos bairros mais pobres das cidades brasileiras.

É uma visão diferente. Um lugar onde passos de break se combinam a trenzinhos. Onde 'os manos' vestem boné e tênis de marca e as 'mina' prezam o melhor shortinho. Não deixa de ser uma imitação.
É na cultura norte-americana e nos grandes astros do hip hop que buscam se espelhar. E contaminou, hoje é uma expressão que deixou de fazer parte apenas do subúrbio do Rio de Janeiro. E o ritmo é forte. De quarta a domingo o compromisso é um só. Ter a 'grana' para  a entrada do baile. Curtir um som em inglês, sem mesmo entender uma palavra. Como os personagens do documentário mesmo definiram: “é o fenômeno cultural dos pobres”.

O sucesso veio aliado a um trabalho de divulgação. Favela também ganhou estúdio e produtora de cd's. As mídias e redes sociais colaboraram para a expansão e o reconhecimento de dezenas de artistas que saíram da favela, para brilhar em palcos nacionais.

Se nos anos 90 a economia era em Cruzeiro e o Brizola, o governador, o tempo mudou a moeda e a política. Mas no poder continuam os favelados. Afinal, segundo eles, é lá que eles desabafam. “A gente vibra com a violência”.

Boa reflexão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário